quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Democracia à francesa

A situação de um país onde o próprio presidente, descendente de húngaros,
tem a coragem de chamar a população dos subúrbios de "ralé"

A notícia de que o senado francês proibiu o uso de burcas em público casou certa irritação. Apesar de grande parte do povo francês (e brasileiro) concordar com a lei – sob os argumentos de que a burca serviria como forma de subjugar a mulher, como disse o presidente Sarkozy –, uma minoria condenou-a como forma de reprimir os costumes de um povo.

O país de Victor Hugo, considerado como um das mais fortes tradições democráticas, está encoberto pela mesma sombra que escurece o resto da Europa Ocidental: Partidos de extrema direita estão ganhando cada vez mais votos, a ponto de chegar ao absurdo de vermos políticos considerados neonazistas no Parlamento Europeu.

O próprio Sarkozy se sente fortalecido com o resultado das eleições européias, que deram uma ampla margem à coalização de direita que o sustenta.

Caso a proibição das burcas não pareça ser um problema sério no contexto europeu – a própria Síria as proíbe, aliás –, devemos relembrar de outro caso que passou mais despercebido.

Viviane Reding foi acusada de comparar
a França com a Alemanha Nazista
Recentemente, os ciganos romani foram expulsos da França. Críticas vieram ainda hoje - 15/09 - como facas pela boca de Viviane Reding – comissária européia para a Justiça e Direitos Fundamentais – que disse que os ciganos, como cidadãos europeus, têm o direito de se moverem livremente pela extensão territorial da EU e ainda: “Acreditava que a Europa não seria novamente testemunha deste tipo de situação depois da Segunda Guerra Mundial”, fazendo alusão as explosões racistas de tal período. Sarkozy rebateu a comissária, aconselhando Luxemburgo – Reding é luxemburguesa – a acolher os ciganos, comentário louvado por outros políticos xenófobos. - fonte

Antes disto, no Novo Mundo, o tão difamado Fidel Castro, mostrou possuir mais sabedoria que Sarkozy e criticou o governo francês: “A última (coisa) que se poderia esperar eram as notícias da expulsão dos ciganos franceses, vítimas da crueldade da extrema direita (...), vítimas de outra espécie de holocausto social” - fonte

Caso considere-se que um Estado soberano tenha o direito de exercer meios coercitivos contra minorias, então poderemos definir com certeza absoluta de que a Europa passa uma série crise. Uma crise que desrespeita os ideais democráticos dos quais os franceses tanto se gabam.

Liberté? Égalité? Fraternité?

Na França, você provavelmente não teria direito a isto.

2 comentários:

  1. Ótimo post! Eu acredito que o que ocorre na França nem é exclusivo só de lá, meio que vejo que o sistema democrático em si está em crise pelo mundo, abalado por suas próprias contradições e angariando cada vez mais descrença do povo. Como historiador, não me acho capaz de "prever" algo, mas creio que nas próximas décadas nós acabaremos testemunhando um processo que pode substituir as democracias como atualmente concebidas por outras formas de governo...

    Abraços.

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  2. Muito obrigado pelo seu comentário Goldfield. Sua opinião de historiador vale muito.

    Espero que estas outras formas de governo sejam na sua maioria benignas, mais humanas. Espero não estar sendo muito utópico quando digo isto.

    Abraços.

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